16 de Outubro de 2024
Vamos desmistificar o crédito: O que os bancos não querem que saiba
Quando se fala de crédito, é fácil sentir-se perdido no meio de termos complicados e contratos com letras miudinhas.
No entanto, para muitos, parece ser um caminho simples para concretizar sonhos. Como, por exemplo, a compra de uma casa ou a realização de uma grande viagem.
Mas será que conhece todos os detalhes que os bancos não lhe contam?
Existem aspetos sobre os empréstimos que as instituições financeiras preferem manter no segredo dos deuses. E, hoje, estamos aqui para desmistificar alguns desses pontos.
Crédito: Os segredos por trás das decisões dos bancos
Para começar, há muitas informações que nem sempre são apresentadas de forma clara. Por isso, conhecer bem o produto é essencial para tomar decisões informadas e evitar armadilhas financeiras.
Com isso em mente, enumeramos alguns pontos-chave que deve ter em consideração na escolha do seu empréstimo. Confira:
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O custo real vai muito além das taxas de juro
Quando estamos a considerar um empréstimo, a primeira coisa para a qual geralmente olhamos é a taxa de juro.
Mas atenção, porque os juros são apenas uma parte do custo total.
Os bancos, muitas vezes, não explicam de forma detalhada que existem outras despesas associadas, tais como:
- Comissões de abertura de processo: este é um custo cobrado pela análise e aprovação do crédito. Embora seja uma taxa única, pode ter um peso significativo no custo total.
- TAEG (Taxa Anual Efetiva Global): A TAEG reflete o custo total do empréstimo, incluindo juros, comissões e outros encargos. Por vezes, os bancos anunciam uma taxa de juro atrativa, no entanto, a TAEG pode aumentar significativamente o custo real do empréstimo.
- Seguros associados: Muitos bancos exigem seguros de vida ou multirriscos como condição para conceder o valor, o que também aumenta o custo total. Estes seguros são, em muitos casos, obrigatórios e têm de ser considerados ao calcular quanto realmente vai pagar.
Conhecer todos os custos envolvidos permite perceber que, muitas vezes, o valor que parecia baixo acaba por ter um custo muito superior ao inicialmente anunciado.
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Empréstimo fácil, mas nem sempre transparente
Os bancos anunciam o crédito como um produto fácil e acessível. Contudo, raramente explicam as implicações do não pagamento das prestações dentro dos prazos.
Quando o consumidor não consegue pagar as mensalidades, as consequências podem ser graves. E por sua vez, os bancos têm formas específicas de lidar com essas situações, são elas:
- Juros de Mora: Se houver atrasos no pagamento, aplicam-se juros de mora. Estes são significativamente mais altos do que os juros normais do empréstimo. Estes juros podem aumentar rapidamente a dívida, tornando-a ainda mais difícil de pagar.
- Penalizações e custos administrativos: Além dos juros de mora, muitos bancos cobram taxas administrativas por cada aviso de atraso enviado ao cliente. Estas taxas podem parecer pequenas, mas somadas representam um custo significativo.
Os bancos preferem focar a sua comunicação na facilidade e na rapidez do empréstimo. Contudo, é fundamental que os consumidores compreendam as implicações de atrasos e as consequências de um eventual incumprimento.
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O "crédito revolving": A armadilha dos juros altos
Este é um dos produtos mais populares, mas também um dos mais complexos do mercado.
O crédito revolving está frequentemente associado ao cartão credial. Ou seja, o cliente tem um limite disponível e pode utilizá-lo de forma contínua, pagando apenas uma parte da dívida todos os meses.
- Juros altos: A grande maioria dos créditos revolving tem taxas de juro muito elevadas, podendo atingir os 20% ou mais. Embora possa parecer vantajoso pagar apenas uma pequena parte da dívida mensalmente, os juros acumulam-se rapidamente. Isso transforma um valor aparentemente pequeno numa dívida muito maior.
- A ilusão do pagamento mínimo: Muitas pessoas caem na armadilha de pagar apenas o valor mínimo do cartão todos os meses. Os bancos incentivam essa prática, mas o que não explicam é que, ao fazer isso, os juros acumulam-se. Além disso, a dívida pode demorar anos a ser paga na totalidade, com um custo total muito superior ao valor inicialmente emprestado.
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O impacto do empréstimo na sua reputação financeira
Os bancos também não costumam dar destaque ao impacto do crédito na reputação financeira dos consumidores.
Sempre que solicita um empréstimo, a informação é registada na Central de Responsabilidades de Crédito (CRC) do Banco de Portugal.
Por isso, se tiver múltiplos créditos ou se atrasar pagamentos, a sua reputação financeira poderá ser afetada. Desta forma, será reduzida a sua capacidade de obter novos empréstimos no futuro.
- Histórico de crédito: Um histórico com atrasos no pagamento pode ser visto como um sinal de risco para os bancos. Isso significa que, no futuro, poderá ser mais difícil conseguir ou poderá ter de pagar taxas de juro mais altas.
- Capacidade de endividamento: Os bancos analisam o nível de endividamento dos clientes antes de concederem novos empréstimos. Se já tiver muitos, é possível ter dificuldades em obter aprovação para mais um, mesmo que a sua situação financeira seja estável.
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A tática das taxas variáveis e fixas
Quando se trata de crédito à habitação, os bancos oferecem duas opções principais: taxa fixa e taxa variável.
Esta decisão é crucial, mas muitas vezes não é explicada com clareza, levando o consumidor a tomar uma decisão menos vantajosa.
- Taxa fixa: Com uma taxa fixa, o valor da prestação mensal não muda ao longo do tempo. O que proporciona estabilidade ao orçamento familiar. No entanto, as taxas fixas são geralmente mais altas do que as variáveis nos primeiros anos.
- Taxa variável: A taxa variável está associada à Euribor, e pode subir ou descer ao longo do contrato. Os bancos promovem frequentemente as taxas variáveis como sendo mais baratas no início. Contudo, não destacam o risco de aumentos futuros, o que pode levar a um aumento considerável das prestações mensais.
Muitas vezes, os consumidores são atraídos pela taxa variável, pois no início parece ser a opção mais económica.
No entanto, é importante estar preparado para as flutuações, especialmente em períodos de instabilidade económica.
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As estratégias dos bancos para fidelizar os clientes
Os bancos utilizam várias estratégias para "prender" os clientes ao longo do tempo.
Algumas destas táticas passam muitas vezes despercebidas e só são detetadas quando já é tarde demais:
- Seguros e produtos associados: Ao contratar um crédito, muitas vezes é solicitado ao cliente que subscreva seguros de vida, multirriscos ou outros produtos bancários. Isto tem um custo, e muitas vezes os clientes ficam presos a estes produtos ao longo de toda a duração do empréstimo.
- Ofertas de taxas aparentemente atraentes: Para atrair clientes, os bancos oferecem condições iniciais muito vantajosas, como taxas de juro promocionais. No entanto, ao fim de alguns anos, as taxas podem aumentar, e o cliente acaba por pagar mais do que esperava.
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Alternativas ao crédito bancário
É importante saber que o empréstimo bancário não é a única opção para obter financiamento. Existem outras alternativas que podem ser menos dispendiosas ou até mais vantajosas dependendo do seu perfil e necessidades:
- Cooperativas: Algumas cooperativas de crédito oferecem taxas mais competitivas e condições menos rígidas do que os bancos tradicionais.
- Poupança prévia: Embora não seja uma solução imediata, poupar, pode ser a forma mais segura de evitar o endividamento e os custos associados.
Resumidamente, conhecer bem as condições do empréstimo é essencial para evitar surpresas desagradáveis e tomar decisões financeiras informadas.
Os bancos tendem a focar-se apenas nas vantagens. Porém, existem muitos aspetos, menos divulgados que têm impacto direto no seu orçamento.
Lembre-se sempre de analisar todos os custos associados e de planear cuidadosamente cada passo. Assim, conseguirá usufruir das vantagens do empréstimo, sem cair em armadilhas financeiras.